Vander Lee

01. Subindo a Ladeira
Vander Lee

Quando te vejo subindo a ladeira
Ponho minha roupa de domingo, toco violão
Lanço meu sorriso de Marcos Palmeira
Mostro meu corpinho fabricado pela malhação
Quando te vejo subindo a ladeira
Faço aquele tipo mauricinho que é de matar
Te chamo prum pagode lá em Madureira
Mostro o meu book da Sonora

Pra te impressionar
Por que você não vem me dar amor
Por que você não vem pra mim
Eu não sou garota de Ipanema
Mas você também não é um Tom Jobim

 

02. Quem me Dirá
Vander Lee

Para aonde vai uma canção
Depois do acorde final?
Será que se vai,
Que se esvai?
Ou por onde entra, sai?
Onde vai dar um grande amor
Depois do desatar dos nós?
Será que é cinema, poema,
Ou só o fim do retrós?
Qual é o tempo da alegria,
Se não for toda manhã?

Homem livre, céu risonho,
Cheiro doce, boca de romã?
Será fantasia, ideologia
Ou filosofia vã?
O que foi feito do meu eu
Depois que o seu me acometeu?
Heterogêneos, misturamos,
Veja só no que é que deu
Quem organiza essa bagunça
Dentro do meu coração…
Que agoniza e não entende
Uma mudança de estação
Pedaço de vida, sou massa falida,
Sou vaso sem flor
Me sopra uma brisa, me pega,
Me toca, me pisa sem dor.
Para aonde vai uma canção
Depois do acorde final?

 

03. Pra Te Embalar
Vander Lee

O amor tem seu segredo sua magia
E pode rolar todo tempo todo dia
É so pintar alguém que deixa a gente zen
Pra sugar da mente a nossa energia

O papo mesmo flerte é questão de viver levar
Curtindo esse clima quente essa coisa no ar
Se a onda é pra valer o tempo vai dizer
O bom do amor é não saber o que vem depois

Vem abre essa porta e deixa o amor entrar
Vem fica comigo esse som é pra te embalar
Joga seus planos pro ar
Escuta o coração pulsar
Existe uma estrada florida a esperar por nós dois

No corpo o seu swing é tão verdadeiro
Que junto ao meu incendeia o mundo inteiro
Vamos sair por aí rodando juntos pela madrugada
Se voce está comigo eu não quero mais nada

 

04. Gente Não é Cor
Vander Lee

Negro é raça gente não é cor,
É um jeito diferente de tocar tambor
Negro é raça, gente não é cor
É um tempo diferente de fazer amor

Foi pré-concebido, negro é fodido
Vagabundo, sub-mundo, infecundo
Pano de fundo, urubu, tição
O careta que sustenta esse conceito,
Não consegue ver direito
Essa negrice no seu peito
É miscigenação
Gente não é feita pra desfeita,
Nenhum negro se sujeita
Isso é mandinga, é coisa feita,
Mas não pega não
Zumbi viveu aqui no cativeiro,
Mas morreu como guerreiro
Da igualdade, da verdade
E isso não foi em vão

Foi no quilombo que aprendi
A jogar jongo
Com nego que veio do congo
Do congado sim sinhô

Foi no reisado
Que também dancei xaxado
Quebra-coco, samba dobrado
Dá licença seu doto

 

05. Atriz
Vander Lee e Claudio Campos

Ah,
Deusa divina
Fera menina
Jeito de tanto bem
Só você tem
Com seu olhar
Com sua luz

A força que me seduz
Me fez sorrir

Me faz cantar, me conduz
Eternamente

Nossos corpos nus
Dançando à luz

Do firmamento
Você foi ótima atriz
Eu juro que fui feliz
Por um momento.

 

06. Outra Manhã
Vander Lee

Enquanto juntava os restos,
Catava os cacos como um flagelo,
Você chegou.
Enquanto trancava as portas
Do casarão, meu coração
Você entrou.
Enquanto me atormentava
Pensando em guerras,
Por outras terras
Você me levou.
Enquanto morria a tarde
Você surgia, estrela guia,
Me iluminou.

Quando te quis foi tão claro
que nem percebi
Fiquei ali e ainda estou.
Tudo era seca e queimada
por dentro de mim
Como jasmim por sobre a mágoa
Você brotou.
Anjo de luz,
Filha de Iansã,
Rompe essa treva,
Me leva pra outra manhã.

 

07. Injuriado
Vander Lee

Eu sou um nêgo injuriado
do cabelo enrolado
do nariz arrebitado
assanhado
humilhado
No entanto, tem tanto que nem eu

Sou um cara afro brasileiro
da cuica e do pandeiro
do batuque no terreiro
sou filho de violeiro
sou o santo
que o Brasil não conheceu

E como um sujeito engajado
de tanto ser maltratado pela vida aprendi

Nada adianta por a culpa no governo
na cultura do estrangeiro que enriquece por aqui

Você tem mesmo é que trabalhar dobrado,
ter os filhos do seu lado, não ter medo de cair.
A tua crença, tua graça e tua dor se você não dá valor quem é que vai te seguir?

Vem cá neguinha vem mostrar seu requebrado
vem sambar nesse gingado que eu não posso resistir
Vem cá pivete joga fora o canivete, pega a bola, deita e rola faz um gol pra eu sorrir
Conheço nego que só fica ali parado dizendo: eu sou culpado, por isso que tá ruim.
Não tem escola, criança pedindo esmola,
fumando crack, querendo cola numa versão tupiniquim.

 

08. Contra o Tempo
Vander Lee

Corro contra o tempo
Prá te ver
Eu vivo louco
Por querer você
Oh! Oh! Oh! Oh!
Morro de saudade
A culpa é sua…

Bares, ruas, estradas
Desertos, luas
Que atravesso
Em noites nuas
Oh! Oh! Oh! Oh!
Só me levam
Prá onde está você…

O vento que sopra
Meu rosto cega
Só o seu calor me leva
Oh! Oh! Oh! Oh!
Numa estrêla
Prá lembrança sua…

O que sou?
Onde vou?
Tudo em vão!
Tempo de silêncio
E solidão…

O mundo gira sempre
Em seu sentido
Tem a cor
Do seu vestido azul
Oh! Oh! Oh! Oh!
Todo atalho finda
Em seu sorriso nú…

Na madrugada
Uma balada soul
Um som assim
Meio que rock in roll
Oh! Oh! Oh! Oh!
Só me serve
Prá lembrar você…

Qualquer canção
Que eu faça
Tem sua cara
Rima rica, jóia rara
Oh! Oh! Oh! Oh!
Tempestade louca
No Saara….

O que sou?
Onde vou?
Tudo em vão!
Tempo de silêncio
E solidão…

 

09. O Que Quiser
Vander Lee

A cor do seu olhar
É o mar a entardecer
Na barra ou no arpoador
O importante é estar lá pra ver

Te ver assim, sei lá
Ao sol sem proteção
Me dá vontade de te guardar
No ninho do meu coração

Sentir seu caminhar
Na areia ou nos quintais
Me deixa muito mais, me faz
Maior que dez mil carnavais

Faça de mim o que quiser
Que eu faço você feliz
Tô pra o que der e vier
Você é tudo que eu sempre quis

 

10. Aversão Brasileira
Vander Lee

Olho a cegueira do mal, gemendo, acendendo a vela da fome da sede de ser
Vejo a viseira do tempo esperando o tapão do horizonte dos bois do saber
Olho a avalanche da guerra, o rugido da serra revanche da terra mãe de todos nós
Vejo a topeira de Antônio, Buraco de Ozônio e a CNN, nosso porta-voz

E você quer que eu lhe faça uma canção de amor
Você pediu que eu lhe fizesse uma canção de amor
você quer que eu lhe faça uma canção de amor
Você pediu que eu lhe fizesse uma canção de amor

Olho o foguete partindo o cimento chegando edifício subindo com destino ao céu
Vejo o menino pedindo pra gente com a boca cuspindo seu dente é o féu é o féu
Olho a tormenta do povo a falta do novo o estorvo o corvo o corpo e a fama
Vejo a mulher pela fresta uma bala na testa uma arma na cama é a lama é a lama

E você quer que eu lhe faça uma canção de amor
Você pediu que eu lhe fizesse uma canção de amor
Você quer que eu lhe faça uma canção de amor
Você pediu que eu lhe fizesse uma canção de amor

Vejo os meninos na noite um sonho fugaz seus carrões me deixando pra trás
Vejo a nudez da menina, a chacina envermelhando a esquina da praça da paz
Que eu corra como um cão danado à procura de um verso de amor pra escrever pra você
Mas morra esmagado pelo caminhão da masmorra, essa zorra chamada viver

E você quer que eu lhe faça uma canção de amor
Você pediu que eu lhe fizesse uma canção de amor
Você quer que eu lhe faça uma canção de amor
Você pediu que eu lhe fizesse uma canção de amor

 

Compartilhe!Share on FacebookTweet about this on TwitterShare on Google+