Vander Lee – Ao Vivo

01. Contra o tempo
Vander Lee

Corro contra o tempo pra te ver
Eu vivo louco por querer você
Morro de saudade, a culpa é sua
Bares ruas estradas desertos luas
Que atravesso em noites nuas
Só me levam pra onde está você
O vento que sopra meu rosto cega
Só o seu calor me leva
Numa estrela pra lembrança sua
O que sou, onde vou, tudo em vão
Tempo de silêncio e solidão
O mundo gira sempre em seu sentido
Tem a cor do seu vestido azul
Todo atalho finda em seu sorriso nu

Na madrugada uma balada soul
Um som assim meio que rock in roll
Só me serve pra lembrar você
Qualquer canção que eu faça tem sua cara
Rima rica, jóia rara
Tempestade louca no Saara.

O que sou…

 

02. Esperando Aviões
Vander Lee

Meus olhos te viram triste
Olhando pro infinito
Tentando ouvir o som do próprio grito
E o louco que ainda me resta
Só quis te levar pra festa
Você me amou de um jeito tão aflito
Que eu queria poder te dizer sem palavras
Eu queria poder te cantar sem canções
Eu queria viver morrendo em sua teia
Seu sangue correndo em minha veia
Seu cheiro morando em meus pulmões
Cada dia que passo sem sua presença
Sou um presidiário cumprindo sentença
Sou um velho diário perdido na areia
Esperando que você me leia
Sou pista vazia esperando aviões
Sou o lamento no canto da sereia
Esperando o naufrágio das embarcações

 

03. Pra ela passar
Vander Lee

Passo o tempo pensando nela
Passo roupa vendo novela
Como broa de fubá
Abro a porta, vejo a rua
Fecho a porta, beijo a sua
Foto no mesmo lugar
Abro a janela, tudo escuro
Fecho a janela todo puro
Esperando só ela chegar
Acendo a vela iluminando
A passarela e vou jogando flores
Pra ela passar
Tomo banho, ponho a roupa,
Tiro a roupa, ponho outra
Bem mais fácil de tirar
Faço rima, crio clima
Se alguém chama, mando o Lima
Atender no meu lugar
Abro a janela………….. Ela passar

 

04. Românticos
Vander Lee

Românticos são poucos
Românticos são loucos desvairados
Que querem ser o outro
Que pensam que o outro é o paraíso
Românticos são limpos
Românticos são lindos e pirados
Que choram com baladas
Que amam sem vergonha e sem juízo
São tipos populares
Que vivem pelos bares
E mesmo certos vão pedir perdão
E passam a noite em claro
Conhecem o gosto raro
De amar sem medo de outra desilusão
Romântico é uma espécie em extinção
Românticos são loucos
Românticos são poucos
Como eu
Como eu

 

05. Aquela estrela
Vander Lee

Aquele jeito que você me olhou
Varreu meu pensamento
Todas as coisas saíram do chão
Eu me esqueci de tudo
Antes que eu me desse conta
Já era seu meu querer
Foi como o sol que desponta
Numa montanha dourada
Na terra do faz de conta
Pra me banhar de prazer

Mas o vazio (essa carta) que você deixou
No meu apartamento
Quase transbordou meu coração
Meu mundo ficou mudo
Você foi pra tão distante
E eu quero tanto te ver
Por isso não se espante
Se numa noite bela
Aquela estrela brilhante
Em sua janela bater

 

06. Seção 32
Vander Lee
Nem todo fim tem começo
Nem tudo que é bom tem seu preço
Nem tudo que tenho mereço
Nem tudo que brota é do chão
Nem todo rei tem seu trono
Nem todo cão tem seu dono
Nem tudo que dorme tem sono
Nem toda regra, exceção
Nem tudo que morre é de fome
Nem tudo que mata, se come
Nem tudo que é dor me consome
Nem toda poesia, refrão
Nem todo carro tem freio
Nem toda partilha é ao meio
Nem toda festa é rodeio
Nem tudo que roda é pião
Nem toda obra se prima
Nem tudo que é pobre se rima
Nem tudo que é nobre se esgrima
Nem tudo que sobra é lixão
Nem tudo que fito é o que vejo

Nem tudo bonito eu almejo
Nem tudo que excita é desejo
Nem todo desejo é tesão
Nem tudo que ganho é o que valho
Nem tudo que jogo é baralho
Nem tudo que cansa é trabalho
Nem tudo que se dança é baião

É baião
Nem todo amor é em vão
Nem toda crença, ilusão
Nem todo Deus, comunhão
Nem todo pecado, perdão
Nem tudo que se dança é baião
Nem tudo que sobra é lixão
Nem toda poesia é refrão
Nem tudo que se dança é baião

 

07. Chazinho com biscoito
Vander Lee

O rapazinho lá do 21
Vive de zumzumzum com a tal de Dinorah

Aquela moça lá do 102 que come ovo com arroz
E arrota caviar
O falamansa lá do 103 que todo fim de mês
Cisma de viajar
No 104 não mora ninguém
Mas se você quiser alguém
Pra dividir pode chamar
O bonitão, cabeludo que usa brinco morador do 105
Me chamou pra passear

Mas tem a bruxa lá do 206 que quer carona toda vez
Que o bonitão vai trabalhar
A empregada lá do 207 fica ouvindo Elizete
E deixa o leite derramar
Quando puder passa aqui no 108 pra um chazinho com
Biscoito pra gente continuar

A conversar, vou te contar

Na cobertura tem um fã do Sepultura
Que pratica acupuntura
Com as cordas do violão

No andar de cima é que mora aquela prima
Do cocô do filhote do cachorro do Vilão

Aqui do lado tem um que fica pelado
Dançando sapateado de frente à televisão
Você sabia que o dono da padaria
É primo daquela tia da mulher do seu patrão

 

08. Onde Deus possa me ouvir
Vander Lee

Sabe o que eu queria agora, meu bem…
Sair, chegar lá fora e encontrar alguém
Que não me dissesse nada
Não me perguntasse nada também
Que me oferecesse um colo, um ombro
Onde eu desaguasse todo o desengano
Mas a vida anda louca
As pessoas andam tristes
Meus amigos são amigos de ninguém

Sabe o que eu mais quero agora, meu amor?
Morar no interior do meu interior
Pra entender por que se agridem
Se empurram pro abismo,
Se debatem, se combatem sem saber

Meu amor…
Deixa eu chorar até cansar
Me leve pra qualquer lugar
Aonde Deus possa me ouvir
Minha dor…
Eu não consigo compreender
Eu quero algo pra beber

Me deixe aqui, pode sair

Adeus

 

09. Alma nua
Vander Lee

Ó Pai
Não deixes que façam de mim
O que da pedra tu fizestes
E que a fria luz da razão
Não cale o azul da aura que me vestes
Dá-me leveza nas mãos
Faze de mim um nobre domador
Laçando acordes e versos
Dispersos no tempo
Pro templo do amor
Que se eu tiver que ficar nu
Hei de envolver-me em pura poesia
E dela farei minha casa, minha asa
Loucura de cada dia
Dá-me o silêncio da noite
Pra ouvir o sapo namorando a lua
Dá-me direito ao açoite
Ao ócio, ao cio
À vadiagem pela rua
Deixa-me perder a hora
Pra ter tempo de encontrar a rima

Ver o mundo de dentro pra fora
E a beleza que aflora de baixo pra cima
Ó meu Pai, dá-me o direito
De dizer coisas sem sentido
De não ter que ser perfeito
Pretérito, sujeito, artigo definido
De me apaixonar todo dia
De ser mais jovem que meu filho
E ir aprendendo com ele
A magia de nunca perder o brilho
Virar os dados do destino
De me contradizer, de não ter meta
Me reinventar, ser meu próprio Deus
Viver menino, morrer poeta

 

10. Sábio
Vander Lee

Sábia é a voz que vem de Deus
Sábia é a paz
De dentro de nós, dos olhos teus
E não se apraz
Nas bibliotecas e museus
Sábio é o sol
Sábio é o cantar do sabiá no arrebol
Quando a tarde quer dizer adeus
Nem ciência, nem religião
Sem explicação
Puro estado de contemplação

Meu coração
Repousa no galho da canção
Sábio é o sol
Sábio é o cantar do sabiá no arrebol
Quando a manhã estende a mão, viu?

 

11. Sonhos e pernas
Vander Lee

Olhe
Não venha me mostrar o que você não vê
Não venha me provar o que você não crê
Não tente se enganar

Pense
Ninguém pode se dar o que só você tem
Ninguém vai te dizer pra onde vai ou de onde vem
A estrada é pra caminhar

Não perca o resto do tempo que ainda te resta
Não perca tempo pensando que a vida não presta
Certas canções duram pouco, outras são eternas
Por que carros e aviões, se tens sonhos e pernas

Lembre
Que sua consciência é o seu grande farol
Há meses que fazem chuva, semanas que fazem sol
E dias em que tanto faz

Faça
Você faz seu enredo, você é seu Jesus
Feche os olhos do medo e abra o templo da luz
E tente um minuto de paz

 

12. Sambado
Vander Lee

Meu carro é uma escola de samba
Ta todo sambado na passarela
Batendo tudo na descida
Subindo a avenida, batendo biela
Na hora de dar a partida
É preciso torcida, é aquela novela
Se não dá defeito na bomba,
É no cabo, no pino ou na pratinela

A alegoria já não anda nota dez
Sempre que passo numa poça molho os pés
A bateria anda sem forças pra levar
Mas é nas curvas que o danado
Mostra que sabe sambar

Anda esquisito no quesito evolução
Só de ano em ano é que sai do barracão
Nosso desfile pode não ser campeão
Mas quando caio no samba ele nunca
Me deixa na mão

 

13. Subindo a ladeira
Vander Lee

Quando te vejo subindo a ladeira
Ponho minha roupa de domingo, toco violão
Lanço meu sorriso de Marcos Palmeira
Mostro meu corpinho fabricado pela malhação

Quando te vejo subindo a ladeira
Faço aquele tipo mauricinho que é de matar
Te chamo prum pagode lá em Madureira
Mostro o meu book da Sonora
Pra te impressionar

Por que você não vem me dar amor
Por que você não vem pra mim
Eu não sou garota de Ipanema
Mas você também não é um Tom Jobim

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