Loa

01. Saudade do Infinito
Vander Lee

O amor aconteceu
De novo aquela hora
Naquele verbo agora
Olhando pela fresta da tarde

Quando tudo cresceu
Não pude perceber a cor precisa
E distinguir o amor do alarde

Verdade
A língua que tá presa na senzala
A solidão não deve usar bengala

Verdade
Me disse que o amor não segue escala
Invade, o quarto, a madrugada e fala
Saudade

O amor interrompeu
De novo aquela hora
E agora o verbo adora
E o fim da nossa festa que aguarde

O choro que era meu
Foi triste mas não era dor
Tapa de luva de uma flor não arde

E a arte
A cédula que vale em qualquer parte
O sol que brilha muito além de marte

Semente
Que em mim diariamente se reparte
E parte
Deixando escrito no infinito
Saudade

 

02 . Procissão de um Homem Só
Vander Lee

Brisa fria no asfalto quente
Vim tentar vida de gente
Água rasa, sal, nascente
De poesia frugal
Desfolhando um dedilhado
Vindo lá do outro lado
Do horizonte ensolarado
Sou acorde natural
Procuro por calmaria
No olho do furacão
Nas águas turvas da noite
Que ara e prepara o pão
Sei lá, sei não
Sigo só nesse ermo estradão
Sei lá, sei não
Ser gauche na vida e semear canção

Vento cobre a aldeia de um riso
Vindo de onde sei não
Só sei que o mar é tranqüilo
Onde sei onde é o chão
Quem é que não amaria
Um homem que só, queria
Na ladeira estreita da alegria
Tocar o velho violão
Sei lá, sei não
Sigo só nesse ermo estradão
Sei lá, sei não
Ser gauche na vida e semear canção

 

03. Sempre Cedo
Vander Lee

Chamo porque o dia é claro
E o vento leve varre as folhas secas dessa praça
Porque digo sempre viva quando vejo você
Percebo como tudo flui no seu silêncio
Nenhuma fala nunca é solitária
Chamo diária e eternamente

Chamo até por que me esqueço
E queimo a ponta dos dedos fazendo fogueira
Gastei meu último sapato e não tenho mais nada
Refiz mil vezes o caminho que me leva ao seu verão
Quando você se foi
E meu olhar te prendeu ao chão

Chamo até porque me esqueço
E queimo a ponta dos dedos fazendo fogueira
Gastei meu último sapato e não tenho mais nada
Refiz mil vezes o caminho que me leva ao seu verão
Quando você se foi
O meu olhar se perdeu no vão

A tarde com você voou
E é sempre cedo
Eu sempre cedo
Eu sempre cedo

 

04. Tu
Vander Lee

Ainda que te vista de véu
Que te coloque um anel
Te ofereça uma estrela
Mesmo que derramada desse olhar
Toda beleza a se espalhar e se espelhar em céus azuis
Não deverias saber, sonhar sequer
Quanto de mim possuis

Só me tens mesmo por saber amar
Quando vens loa pra me ocupar
E sou teu, sou teu estar
Só me tens mesmo por saber amar
Quando vens ermo pra colonizar
E sou teu, sou teu star

Paisagem no teu caminho a te contemplar
Nua, no ato, no instante, na livraria
Tirando o pó da poesia
Sozinha no quarto

 

05. ABC
Vander Lee

Estou aqui na praça abc
Relendo o beabá de viver sem você
Sem muito a esperar, um pouco a esquecer
Um tanto a perdoar e outro a entender
A vida me oferece o prato feito do dia;
Uma cidade ruidosa, uma agenda vazia
Coisas que eu não precisava junto de você
Que ainda estão sem nome depois de você

Mas não falta motivo
Que me mantenha vivo
Há tanto por viver
E tudo é mais sereno
Recomeçar é pleno
Pra quem quer ascender

Ali na liberdade, onde te encontrei
Ontem fiquei perdido e te telefonei
Dizem que perdi uns quilos
Falo que estou melhor
Meu coração pequeno, feito pra bater
Provou do seu veneno, sonhou feito menino e não quer aprender
No livro do destino meu coração menino vai aprendendo a ler.

 

06.Vinho
Instrumental

 

07. Retrato da Vida
Djavan e Dominguinhos

Esse matagal sem fim
Essa estrada, esse rio seco
Essa dor que mora em mim
Não descansa e nem dorme cedo
O retrato da minha vida é amar em segredo
Não quer saber de mim
E eu vivendo da sua vida
Deus no céu e você aqui
A esperança é que me abriga
Esses campos não tardam em florir
Já se espera uma boa colheita
E tudo parece seguir
Fazendo a vida tão direita
Mas e você o que faz, que não repara no chão
Por onde tem que passar
E pisa em meu coração
O teu beijo em meu destino
Era tudo que eu queria
Ser seu homem seu menino
O ser amado de todo dia

 

08. Prece Preciosa
Vander Lee

Sou do mundo dos que não tem pressa
Sou do canto dos de pouca prosa
Vou garimpando a vida na bateia
Revirando areia em prece preciosa

Ametistas, hematitas, águas marinhas
Por que não
São descuidos de algum anjo torto
A brincar de bodoque
No quintal do universo da invenção

Diamantes dos amantes de antes
De agora em diante pra sempre serão
Poemas de amor esculpidos dos olhos de deus
No último dia da criação

Topázio nos olhos de tigre
Turmalinas verdes que de ver projetam
Sua luz sobre o canto da fada
Entoando a toada talhada no chão

Turmalinas, esmeraldas, sodalitas
Carbonitas que de leve levem
Pra dentro de um quartzo rosa
O saber da existência, o sentido da civilização

 

09. Menino
Vander Lee

O sol em minha vida acaba de entrar
No escuro de uma noite
A luz do meu destino
Na paz do meu olhar nos olhos de um menino

A natureza humana e seu misterioso esplendor
A imensa dor da espera
A flor da esperança
Brotando num sorriso de criança

E a alegria acordou
Pra brincar no seu quintal
Jeito puro de sonhar
Não existe bem ou mal
Fantasia colorida e um abraço no final

E o mundo vai sem tempo pelos passos da ilusão
No seu verso me ligo
E deixo em sua mão
Amor de “mais e pães”, o mais preciso

Lá no porto da vida, quando eu ancorar
Encontre seu caminho
No simples caminhar
Não perca essa criança em seu olhar

Pra alegria acordar
E brincar no seu quintal
Jeito puro de sonhar
Não existe bem ou mal
Fantasia colorida e um abraço no final

 

10. Seu Rei
Vander Lee

Não quero ser seu rei
Não sei nem de mim
Não quero ser melhor
Nem pior, sou assim
Só quero ser eu
Só quero ser
Meus sonhos mudaram
Mas eles não calam a dor
Não podem matar um amor
Que não quer morrer
Estamos atados, mas abandonados de nós
Perceba como estamos sós, enfim
Não posso ser seu dono
Nem ser de você
Só quero ser eu
Só quero ser
Não quero ser seu rei…

 

11 .Siga em Paz
Vander Lee

E vem você dizer
Que meu o calor já não te aquece mais
O que devo fazer
Se nesse travesseiro já não dorme a paz
E quando amanhecer
E o dia me encontrar tão só com meus botões
Eu não vou entender
Meu corpo só conhece a língua das paixões

Saiba meu amor meu coração só sabe se entregar
Basta um chamado seu, que eu não demoro a chegar
Tudo que separa nos prepara para o novo encontrar
Quando você partir não quebre as pontes que atravessar

E vem você dizer
Que o meu amor não te apetece mais
O que posso fazer
Além de desejar que você siga em paz

Mesmo que algo melhor te espere do lado de lá
Quando você partir não quebre as pontes que atravessar
Mesmo que a vida se transforme numa dança sem par
Fique na pista, não desista, deixe essa canção te levar

 

12. A Vida é Bela
Vander Lee

Moço, tá osso mas vou levando
Do fundo do poço vou me safando
Remando a canoa do jeito que dá
Deixo o balanço em primeiro plano
Danço, me lanço, mudo de engano
Matando no peito e deixando rolar
A vida é bela
Aquela flor na janela pra mim declama
Viver é doce
Como o doce que eu trouxe depois da cama
É como a brisa
Tá num chão que quem pisa flutua e ama
Ou como flauta
Que não cabe na pauta de quem reclama

Moço, tá osso mas vou levando…

Vazia e dura
É como um pneu que fura e não tem estepe
A vida avisa
A vida nunca precisa que alguém se estrepe
A vida dura
O tempo de uma procura, de uma piscada
Azul e breve
Um vôo de ultraleve, uma gargalhada
Desanda e trava
Agora mesmo eu estava com a resposta
A vida é isso
Encher lingüiça e chouriço e colher aposta
A mesa posta.

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